Abrir espaço e tempo
- Catarina Oliveira
- 30 de mai. de 2019
- 2 min de leitura

Um comboio de alta velocidade pára apenas em poucas estações já pré-definidas.
O seu objectivo é fazer o caminho no mais curto espaço de tempo, sem qualquer contemplação por pessoas, paisagens e apeadeiros, aguçando o trajecto à cadência mais elevada.
"... no mais curto espaço de tempo..."
Interessante esta expressão que alia dois conceitos físicos, que, na realidade, são consubstanciados por cada um de nós à medida das nossas incertezas, expectativas, ansiedades e objectivos.
Definimos espaço e tempo nas nossas mentes, e, geralmente, queremos passar a alta velocidade por tudo o que nos acontece, pois pensamos que o custo das paragens gera prejuízo para a eficácia das nossas vidas.
Será mesmo assim?
Chegamos depressa a destinos. E depois? Procuramos uma nova carruagem para nos levar a outro destino rapidamente?
"Nos levar", exactamente. Somos levados, para não nos transportarmos a nós mesmos, porque, aí, teremos que criar o nosso tempo e espaço; desenhar um novo trajecto em que, necessariamente, efectuamos paragens quando existe um obstáculo no caminho, providenciando espaço e tempo para contorná-lo, e não pulá-lo.
Isso implica a coragem de:
1- Saber quando parar;
2- Olhar em modo de observação pura para o obstáculo;
3- Conhecê-lo, saber porque está ali, e, mais importante, para quê.
4- Dialogar com ele, sabendo que a troca de informações honestas gera conhecimento, e, por sua vez, poder de escolha;
5- Reformular o trajecto em conjunto, percebendo que o destino é legítimo, e baseado em intenções válidas e validadas por ambos.
Estas paragens podem não ser forçadas. Podem ser feitas em reconhecimento prévio do terreno, com tempo e espaço que, se quisermos, podemos utilizar (já que eles existem na nossa mente), para criar um destino mais seguro, robusto, e sólido.
O que é preciso é abrirmos espaço e tempo, para formular ou reformular o trajecto, pois a alta velocidade pode criar o vazio à chegada.