Espelho
- Catarina Oliveira
- 5 de fev. de 2018
- 2 min de leitura

Naquela história em que a rainha má pergunta ao espelho se há alguém mais belo do que ela, quem é que lhe responde? Quem ou o que é o espelho?
É um outro lado, mas um lado seu.
Por detrás da superfície fina envidraçada existe todo um mundo a ser desvendado, brotado. Contudo, teimamos em não querer perscrutá-lo. E, quando desplicentemente lhe fazemos uma pergunta, julgando que a resposta será rápida e prazerosa, somos puxados para as profundezas que subjazem aquele reflexo imediato e superficial. Elas estão sempre lá.
Após o embate, as expectativas de uma resposta fútil são goradas.
Um outro lado que não queremos ver, surge a confrontar-nos: quem é o petulante que consegue dizer que há alguém mais belo que eu? És tu próprio. Lamento, foste forçado a pensar, quando querias uma pequena lufada de ar fresco para continuares a pairar na nuvem da ilusão, e assim não te cumprires.
Quando o teu eu mais profundo inicia um diálogo esclarecedor, podes querer parti-lo, tal e qual bruxa má da Branca de Neve.
Aguenta o primeiro embate. Vais ver que vale a pena a conversa prolongar-se. " Tu já és bonita, mas que te falta para seres a mais bonita?; Qual a razão de teres medo de perder a beleza? O que há no fundo de ti que precisa de ser resgatado para te preencheres sem teres que me partir, que te partires a ti própria?", confidencia o espelho.
Ao magoares o espelho, os muitos espelhos que a vida te coloca à frente, só tu podes reparar os estilhaços; ou, antes que isso aconteça, resgatares o teu lado mais vulnerável, e amá-lo, aceitando-o primeiro, colaborando com ele, depois.
Afinal, é ele que está em cada reflexo que não queres ver. Se o observares, abraçares, e cuidares, vai ser cada vez mais fácil visitá-lo, e purificá-lo de cada embaciamento que naturalmente sucede na vida.
Queres ajuda na limpeza?
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